Ela é uma das melhores atrizes do país, mas só foi escalada para o papel principal de uma novela 30 anos depois de estrear na TV. Como a batalhadora Griselda, de "Fina Estampa", e também nesta entrevista, Lília mostra que o reconhecimento é mais do que justo
Aguinaldo Silva, autor de "Fina Estampa", deu vida a Griselda para homenagear as mulheres que foram abandonadas pelos maridos e não esmoreceram. Recentemente, declarou que suas heroínas “não são patricinhas fúteis”, como na maioria das novelas, mas “mães coragem”, mulheres de verdade. Lília Cabral, 54 anos, também foge ao padrão das protagonistas de novela. Não tem frescuras nem surtos de estrelismo e se preocupa mais com o tom da interpretação do que com o da base que cobrirá sua pele. Filha única de mãe portuguesa e pai italiano, foi expulsa de casa aos 24 anos, quando decidiu ser atriz. Saiu de São Paulo para o Rio e, sozinha lá, sofreu crises de pânico e depressão. Trinta anos depois, transita com desenvoltura pelos estúdios do Projac. Do técnico de som ao diretor, todos a reverenciam. “Esse Pereirão é demais”, diz um. “Divina, maravilhosa”, afirma outro. Mas Lília só se deixa tocar por um elogio em especial: o do editor de imagem. “Quando ele diz, aí sim é verdade, porque, quanto melhor eu fizer, melhor será para ele editar.”
Entre provas de roupa, gravações no estúdio, retoques de maquiagem e uma rara manhã em casa (com o marido, Iwan Figueiredo, 62, e a filha Giulia, 14), Lília recebeu Marie Claire por vários momentos ao longo de quatro dias.
Aqui você confere o melhor deles e de uma atriz que é tão forte e delicada quanto a flor que lhe empresta o nome: Lília, em russo, quer dizer lírio.
MARIE CLAIRE Você declarou que a Griselda é a personagem mais difícil da sua vida. O que tem de tão desafiador nela?
LÍLIA CABRAL Não é o tipo de pessoa que você vê em qualquer lugar. Não há Griseldas na Vieira Souto (em Ipanema) ou almoçando nos shoppings da Barra. O Pereirão (apelido da personagem por causa da aparência masculina) é um faz-tudo, um marido de aluguel, que conserta de fusíveis a pneus de carro. Há muitas mulheres que vivem para sustentar a casa, mas poucas andam de macacão, botina, boné. Ao mesmo tempo, por trás daquela rusticidade toda, existe uma delicadeza e uma feminilidade que a vida suprimiu, endureceu. Isso torna o papel mais complexo porque as novelas, hoje, são naturalistas. O telespectador quer ver e acreditar. Colocar o macacão e o boné e fazer trejeitos de homem é fácil. Difícil é mostrar que, por trás daquela mulher rude, ao pegar o garfo e o martelo há uma delicadeza de sentimentos.
MC O Aguinaldo Silva, autor da novela, disse que se inspirou em uma senhora de Santa Tereza para criar a Griselda. Você também já conheceu alguém assim?
LC Já. No Espírito Santo. Tenho até uma foto dela. Foi no ano passado e eu estava em cartaz com o espetáculo "Maria do Caritó" , em Vitória, mas já tinha recebido o convite para fazer "Fina Estampa". Eu e os atores estávamos conversando quando um deles vira e fala: “Ih, olha lá sua Griselda”. Olhei para o lado, vi uma moça de botina, calça jeans, camisa polo e maleta de ferramentas! Perguntei o que ela fazia e ela disse que era contratada de um hotel para fazer todo tipo de manutenção. Conforme conversei com ela, vi que era uma pessoa delicada. Tinha certa masculinidade, mas era casada, tinha uma filha e falava do seu amor pela família.
MC O que mais a envaidece: o papel ser desafiador ou ser sua primeira protagonista em 30 anos de Rede Globo?
LC Nunca me passou pela cabeça ser protagonista de novela das 8. Nunca. Sinto-me tão protagonista das minhas peças (Lília protagonizou, produziu e dirigiu "Divã", livro de Martha Medeiros que virou peça, filme e seriado) que, na TV, nunca pensei em ser a principal. Meus papéis sempre foram bons e, de alguma maneira, cresceram na trama, o que para mim já era motivo de orgulho. Por isso, juro que não senti aquele “uau, que máximo, chegou minha vez” (roda a cabeça e se faz de esnobe). Se bater algum tipo de vaidade nessa novela, espero que seja no fim, quando eu puder olhar a trama toda e dizer: “Venci essa parada”.
LC Nunca me passou pela cabeça ser protagonista de novela das 8. Nunca. Sinto-me tão protagonista das minhas peças (Lília protagonizou, produziu e dirigiu "Divã", livro de Martha Medeiros que virou peça, filme e seriado) que, na TV, nunca pensei em ser a principal. Meus papéis sempre foram bons e, de alguma maneira, cresceram na trama, o que para mim já era motivo de orgulho. Por isso, juro que não senti aquele “uau, que máximo, chegou minha vez” (roda a cabeça e se faz de esnobe). Se bater algum tipo de vaidade nessa novela, espero que seja no fim, quando eu puder olhar a trama toda e dizer: “Venci essa parada”.
“SE RECEBESSE UM PAPEL COMO ESSES HÁ 20 ANOS, IA ERRAR. NÃO CONSEGUIRIA ME DESPIR DA VAIDADE”
MC Que vantagens você vê em receber o papel aos 54 anos e não aos 20 ou 30, como acontece com a maioria das bonitonas da TV?
LC Se eu recebesse uma personagem difícil assim há 20 anos, ia errar feio (risos). Não conseguiria me despir da vaidade que toda mulher tem de querer ficar bem no vídeo. É difícil emprestar seu corpo para outra pessoa, ainda mais quando ela é bem diferente de você. Hoje, faço com tranquilidade. Não me preocupo com a luz, com o ângulo que me deixa melhor, o suor. Se fosse mais jovem, ficaria grilada. Poxa, agora tenho bigode (arregala os olhos e alisa o buço cultivado durante meses para Griselda).
LC Se eu recebesse uma personagem difícil assim há 20 anos, ia errar feio (risos). Não conseguiria me despir da vaidade que toda mulher tem de querer ficar bem no vídeo. É difícil emprestar seu corpo para outra pessoa, ainda mais quando ela é bem diferente de você. Hoje, faço com tranquilidade. Não me preocupo com a luz, com o ângulo que me deixa melhor, o suor. Se fosse mais jovem, ficaria grilada. Poxa, agora tenho bigode (arregala os olhos e alisa o buço cultivado durante meses para Griselda).
Foto Lilia4
“POR CAUSA DA GRISELDA, NÃO FAÇO MAIS AS UNHAS, NEM SOBRANCELHA, NEM BUÇO. É UMA DOAÇAO MESMO”
MC Você se preocupa tanto em parecer crível. Não é estranho que bonitões como o Paulo Rocha e o Dalton Vigh deem bola para uma mulher como a Griselda?
LC É e muito (risos). Mas sempre assisto à novela para estudar como estou indo e onde posso melhorar. Na minha opinião, eles não estão dando mole para a Griselda. Quem está vendo isso é o público, que sabe que, mais para a frente, ela vai ganhar na Loteria, ficar mais bonita e alguns climas vão pintar. Até agora, o Dalton não olhou para mim e se apaixonou. Ele me acha uma boa “quebra-galho” e só. O Paulo, que é português, tem saudade de casa, admira aquela mulher trabalhadora e transfere isso para outro lugar. Não é sexual, é uma confusão misturada com saudade.
MC Como ficou sua vaidade ao se emprestar para uma mulher quase desprovida disso?
LC Sou muito vaidosa, mas, por causa da Griselda, não faço mais a unha – veja como ela está toda carcomida –, não tiro a sobrancelha nem o buço. É uma doação mesmo. Deixo o bigode loirinho para não ficar tão feia e, na hora de gravar, passo um rímel bronze que o deixa mais escurinho. A sobrancelha, que eu tirava xingando porque dói, não vejo a hora de voltar a tirar. Mas essa coisa grande, tipo taturana, é um horror, então passo um rímel transparente em cima dela e vou vivendo (risos). Sou vaidosa, mas não sou uma escrava da beleza. Curto me arrumar, gosto da minha casa enfeitada. E tenho uma maleta de maquiagem incrível (vai até o armário no Projac e mostra em detalhes a super-nécessaire). Tenho requinte para as coisas! Minha pasta de trabalho é toda colorida, organizada.
LC Sou muito vaidosa, mas, por causa da Griselda, não faço mais a unha – veja como ela está toda carcomida –, não tiro a sobrancelha nem o buço. É uma doação mesmo. Deixo o bigode loirinho para não ficar tão feia e, na hora de gravar, passo um rímel bronze que o deixa mais escurinho. A sobrancelha, que eu tirava xingando porque dói, não vejo a hora de voltar a tirar. Mas essa coisa grande, tipo taturana, é um horror, então passo um rímel transparente em cima dela e vou vivendo (risos). Sou vaidosa, mas não sou uma escrava da beleza. Curto me arrumar, gosto da minha casa enfeitada. E tenho uma maleta de maquiagem incrível (vai até o armário no Projac e mostra em detalhes a super-nécessaire). Tenho requinte para as coisas! Minha pasta de trabalho é toda colorida, organizada.
MC Você é disciplinada e, ontem, em cena, disse que não gosta de errar. De onde vem tanto rigor?
LC Bom, a família da minha mãe veio de Portugal e a do meu pai, da Itália, na época da Segunda Guerra Mundial. Para minha mãe, disciplina era tudo. A família dela tinha muitas posses lá na Ilha dos Açores, mas perdeu tudo com a guerra. Meu avô morreu, minha avó colocou as terras nas mãos de agiotas que roubaram todo o dinheiro e veio sozinha do Brasil com cinco dos sete filhos. Quando ela chegou aqui, teve de começar do zero. Minha mãe e minhas tias foram trabalhar nas indústrias Matarazzo. Vivia todo mundo junto e, para que a coisa desse certo, a casa era cheia de normas, regras. Não podia tirar nota baixa, não podia falar mal das pessoas à mesa. Meu pai veio da Itália com um irmão com quem não se dava bem e conseguiu com esforço montar uma indústria mecânica pequena, de roscas e parafusos. Foi ali que ele e minha mãe se conheceram. Eles prosperaram, mas, na época do Sarney, perderam quase tudo. E começaram de novo. Essa coisa de lutar e voltar para trás, ganhar, perder e sobreviver, eu conheço bem. Como sou filha única, sofri muito, fui reprimida porque era uma família rigorosa, mas aprendi bem o valor das coisas.
LC Bom, a família da minha mãe veio de Portugal e a do meu pai, da Itália, na época da Segunda Guerra Mundial. Para minha mãe, disciplina era tudo. A família dela tinha muitas posses lá na Ilha dos Açores, mas perdeu tudo com a guerra. Meu avô morreu, minha avó colocou as terras nas mãos de agiotas que roubaram todo o dinheiro e veio sozinha do Brasil com cinco dos sete filhos. Quando ela chegou aqui, teve de começar do zero. Minha mãe e minhas tias foram trabalhar nas indústrias Matarazzo. Vivia todo mundo junto e, para que a coisa desse certo, a casa era cheia de normas, regras. Não podia tirar nota baixa, não podia falar mal das pessoas à mesa. Meu pai veio da Itália com um irmão com quem não se dava bem e conseguiu com esforço montar uma indústria mecânica pequena, de roscas e parafusos. Foi ali que ele e minha mãe se conheceram. Eles prosperaram, mas, na época do Sarney, perderam quase tudo. E começaram de novo. Essa coisa de lutar e voltar para trás, ganhar, perder e sobreviver, eu conheço bem. Como sou filha única, sofri muito, fui reprimida porque era uma família rigorosa, mas aprendi bem o valor das coisas.
Que atriz maravilhosa, no papel de Griselda ela está arrasando! Parabéns pra ela!
ResponderExcluirAhhh.. Eu gosto bastante dessa dela como atuando... Linda...
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lilia cabral como griselda esta fazendo um grande susseso em fina estampa eu adoro ela e a melhor novela que eu ja asisti otima eu adoro e lilia crabra e muito linda
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